(...)LEITURA COMPLEMENTAR
NÃO, O BRASIL AINDA NÃO É MASSA FALIDA (Transcrito de BALANÇO FINANCEIRO, abril de 1988) Narrei anteriormente a história de um cliente meu, aristocrata português, que no começo de 1986 tinha uma carteira de ações avaliada em 20 milhões de dólares à cotação do black.
Na época, aos leitores que questionavam a possibilidade de se ganhar tanto dinheiro na Bolsa, eu respondia que a informação estava correta: eu mesmo tinha feito e refeito os cálculos.
Na
verdade, há mais milionários na Bolsa do que se possa imaginar. É
que eles estão enrustidos; não gostam de aparecer. Alguns aplicaram
dinheiro próprio, outros usaram capital alheio, mas saíram-se bem.
Entre os que aplicaram capital alheio, conheço um que é agricultor no Nordeste e que, nessa qualidade, vem há anos conseguindo dinheiro fácil no Banco do Brasil, a juros subsidiados, e desviando-o da aplicação natural, que seria a lavoura, para vir comprar ações de empresas no Sul.
Certa vez, estranhei que sua variadíssima carteira, de causar inveja a muitos Investidores Institucionais, não incluísse ações do Banco do Brasil.
– Jamais comprarei ações de um banco que me empresta dinheiro a juros subsidiados –, ironizou, com cinismo, numa versão pessoal da piada de Groucho Marx (“Jamais aceitarei ser sócio de um clube que me aceitasse como sócio”).
(Já escrevi várias vezes sobre os parasitas que, como esse fazendeiro, se locupletam à custa dos bancos oficiais, dos quais são sócios sem ações. Colecionei dezenas de histórias sobre eles, mas quem desejaria ouvi-las num País que não mais se sensibiliza com coisas vergonhosas?) Outro dia meu amigo português convidou-me para saborearmos novamente, no mesmo restaurante dos Jardins, aquele prato refinadíssimo que é o linguado ao molho de alcaparras regado a vinho.
Na hora de pagar a conta, ele observou que, com os preços de agora, comparados com os de dois anos atrás, nós todos empobrecemos.
Essa observação soou estranha naquele ambiente luxuoso, mas o caso é que, a rigor, meu amigo empobreceu nestes dois anos. Sua carteira de ações, que antes valia 20 milhões de dólares, agora não vale mais que 7 milhões. Neste meio tempo, 13 milhões de dólares esvaíram-se como fumaça.
Mas não vamos ter pena desse perdedor. Só em dividendos ele recebe por ano o equivalente a 500 mil dólares – o salário dos presidentes de muitas empresas multinacionais. E, afinal, ele ainda tem 7 milhões de dólares.
Outros empobreceram muito mais.
Pelos padrões internacionais, as nossas empresas em geral estão no fundo do poço. Conforme a tabela mostra, o controle acionário dos cinco bancos comerciais mais ricos do país – Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Banespa e Unibanco – que detêm mais de 50% dos créditos do sistema financeiro, está sendo avaliado pelo mercado acionário por menos de 500 milhões de dólares (avaliação de 1988).
Qualquer multinacional estaria em condições de adquirir o controle desses cinco bancos usando seu lucro de um só semestre, se a tomada de controle via Bolsa fosse possível no Brasil.
Pela mesma base de cálculos, todas as empresas rentáveis brasileiras poderiam ser arrematadas na Bolsa por 10 bilhões de dólares, ou seja, um décimo de nossa dívida externa.
Esses preços baratíssimos, de fim-de-feira, deveriam atrair os estrangeiros a investir no Brasil, país que, pelas suas imensas potencialidades, já deveria estar concentrando investimentos de todo o mundo, como o grande eldorado do século XX.
Se eles não vêm, provavelmente é porque estão considerando nosso país um caso perdido. Eles acham que somos menos que massa falida. Há no mundo todo empresas especializadas em adquirir massas falidas para recuperá-las. Mas – como diria Groucho Marx – parece que para o Brasil ser considerado massa falida ainda terá de progredir muito.
Fonte: Balanços e Boletins BVSP
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Data da publicação : 1 outubro 1992
Edição : 10ª
Idioma : Português
Número de páginas : 342 páginas
ISBN-10 : 8585454164
ISBN-13 : 978-8585454166
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